"Madame" e o conto de fadas do século XXI, com estereótipos escancarados

A comédia "Madame", que chega aos cinemas nesta quinta (29), é um filme com aquilo que mais amo no cinema francês: a possibilidade de fazer rir e, ao mesmo tempo, dar um bom tapa na cara, trazer reflexões, emocionar. Neste longa, a roteirista e diretora Amanda Sthers faz uma critica social bem bacana e nos escancara os estereótipos que criamos diariamente. Apesar de francês, o filme é todo falado em inglês e traz a história dos americanos Anne (Toni Collette) e Bob (Harvey Keitel). Eles são recém-chegados a Paris e organizam um luxuoso jantar para 12 pessoas. Quando uma presença inesperada faz o número virar 13, a supersticiosa anfitriã se recusa a dar chance ao azar e transforma a empregada Maria (Rossy de Palma, a estrela maior da produção!) em convidada especial espanhola. Inicialmente receosa, ela acaba conquistando um comerciante de arte britânico com seu jeito único e o relacionamento se aprofunda para além da noite de festa, para desespero dos controladores patrões de Maria.

Com sutilezas, boa risadas e uma proximidade que se cria entre espectador e personagens, "Madame" mostra a superficialidade das relações humanas de uma maneira que tangencia a ideia de conto de fadas, mas com um pezão na realidade - e com uma narrativa bem amarrada que envolve quem a assiste. É maravilhoso acompanhar a empregada que, disfarçada na mesa de jantar com aqueles a quem deveria servir, é ousada o suficiente (mesmo por vezes sem ter consciência disso) para agir de sua própria maneira e falar o que lhe vem à cabeça. Quando o lorde inglês David Morgan (Michael Smiley) se apaixona por ela, os patrões não entendem o que Maria pode ter de especial, como se percebe na fala de Anne: “Passo meus dias me privando de tudo, num esforço contínuo para me manter jovem e bonita. Já a outra basta entrar na sala para descobrir o amor. O que estou fazendo de errado?”.
O espectador atento pode logo perceber as discussões que entremeiam a obra: diferença de classes, condição do imigrante, barreiras sociais... E a mensagem de que a verdadeira felicidade está em poder ser quem se verdadeiramente é.