“10 segundos para vencer” revisita a história do boxeador Éder Jofre

Hoje, 27 de setembro, estreia o filme “10 segundos para vencer”, do diretor José Alvarenga Jr. que retrata a vida do lutador de boxe Éder Jofre, hoje com 82 anos, que é representado no longa por Daniel de Oliveira. Paulista, Éder desde criança convivia com o boxe. O filme começa retratando sua infância em 1946 e dá alguns saltos de tempo até chegar a sua última vitória, em 1973.
O lutador se tornou bicampeão mundial de boxe treinado por seu pai, Kid Jofre, representado pelo excelente Osmar Prado. Mesmo com amor, sua conduta era sempre muito austera e rígida, tanto por ser homem, como por ser treinador também por ser pai, e por viver em uma época bem diferente da atual. O longa se preocupa em mostrar também toda a relação familiar de Éder e como isso afetou toda a sua vida, carreira, autoestima e relações amorosas.
Posteriormente, ele larga os estudos para, com o boxe, ganhar dinheiro para salvar o irmão doente e assim começa a fazer sucesso, ganhar notoriedade e dinheiro e acaba nunca voltando para o curso. O longa mostra ainda um pouco da loucura de um lutador de boxe, que tem que emagrecer em muito pouco tempo e por isso sofre várias privações e sacrifícios. Éder tinha que ter uma vida muito regrada e acabou também se afastando da família, a esposa e os filhos. Mesmo depois que se aposentou do boxe, a vida continuou conturbada. Ele cai no esquecimento e não tem mais muito dinheiro, o que lhe traz imensa frustração.

A cena do casamento é uma das mais legais, mostrando um dos poucos momentos de descontração do lutador. Nessa cena, há uma brincadeira com a câmera, que é muito legal porque é um jogo de imagens e de épocas. Algumas boas cenas de reconstituição das lutas também são incríveis e retratam o belo trabalho artístico do ator Daniel de Oliveira e do diretor de fotografia Lula Carvalho. Mais uma cena de destaque é a da sua entrevista coletiva quando Éder vai lutar nos EUA, enfrentando o então segundo colocado no ranking mundial, Joe Medel. Na entrevista em inglês, Éder é menosprezado e ridicularizado.
É uma pena que o longa não tenha explorado melhor o contexto histórico no qual ele está inserido. Somente em um momento Jofre recusa a apropriação de sua vitória e os elogios do general Médici, naquele que foi um dos piores momentos da ditadura militar no Brasil. Fora isso, nada mais é dito, mesmo sendo o boxe um importante esporte no período, de muita conturbação. A equipe de cenografia também merece destaque neste filme, pela brilhante ambientação dos anos 1940 e 1950 nas roupas, móveis, maquiagens etc. Mais um bom longa biográfico brasileiro.