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Conflito de gerações e importância da autocrítica dão o tom em "Rasga Coração"


Uma das muitas palavrinhas que temos ouvido com frequência nos últimos tempos é "autocrítica". E é isto que "Rasga Coração" me parece ser: a necessidade de mostrar os erros e acertos dos movimentos de luta contra a repressão, hoje ou na ditadura militar. Mas, para além disso, mostra nossa complexidade e o fato de que, quando falamos de seres humanos, não existe muito o "isto ou aquilo", as oposições concretas e diretas. Somos plurais dentro de nós mesmos, com certezas e incoerências, mudanças diárias, olhos e ouvidos ora abertos, ora fechados. A verdade é que todo mundo tem um pouco de razão e um pouco de atropelos de comportamentos.

O longa, que chegou aos cinemas na última quinta-feira (6), é uma adaptação da peça homônima de Oduvaldo Vianna Filho e tem direção de Jorge Furtado. De cara, destaco a atuação de Drica Moraes, que se entrega de corpo e alma ao papel da dona de casa Nena (sim, ela rende boas risadas!). Ela é casada com Custódio, personagem de Marco Ricca (ou o Manguari Pistolão da juventude, atuante na militância em boa parte da vida). Agora ele tem que enfrentar o mesmo que seu pai enfrentou: o seu filho Luca (Chay Suede) pretende deixar a faculdade de Medicina e ingressar de vez no movimento hippie. Em um crescente conflito com as escolhas do filho (que o acusa de acomodado), ele vê seu passado sendo reinventado na figura dele, os comportamentos sendo repetidos.

"Rasga Coração" é um filme que mescla pautas antigas e atuais (e vê como em muitos pontos eles se encontram e misturam), além de mostrar a importância de que todos percebam seus privilégios de classe social, de raça ou gênero. A partir daí, percebemos a disputa, muitas vezes interna, entre a importância das pautas políticas e lutas sociais e as questões psicológicas e pessoais de cada um dos personagens (que retratam a nós, espectadores, em muitos momentos). Um exemplo dessa complexidade de comportamentos da vida retratada no longa (e todos os efeitos que ela pode causar) é a existência do irreverente Bundinha (George Sauma) e de Camargo (Anderson Vieira), um outro estudante militante. Juntos eles são os dois fantasmas do passado a assombrar Custódio, simbolizando suas escolhas e culpas.

Uma coisa é certa e o filme nos mostra isso claramente: precisamos manter sempre nossos olhos e ouvidos bem abertos para entender histórias que não são as nossas, aprender sobre realidades que nunca vivemos ou viveremos, compreender a pluralidade de indivíduos.


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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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