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"Compra-me um Revólver" traz um México dominado por cartéis - e sem mulheres


É como Simone de Beauvoir disse certa vez: "Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a vida". O longa mexicano "Compra-me um Revólver" se passa em um futuro sem data definida, mas bem real. Nesta época retratada, as mulheres aparentemente são objetos sexuais, sendo sequestradas para prostituição e reprodução, além de facilmente assassinadas. Pelo menos é o que se imagina, já que não fica muito claro o que acontece com o sexo feminino naquele contexto. A sociedade é comandada por cartéis, todos fortemente armados e lutando uns contra os outros. Tudo é tenso. Fugir e se proteger fazem parte da rotina em busca de sobrevivência. Para além disso, a pobreza extrema da população comum é algo real.

Em um ambiente tão hostil, a garota Huck usa uma máscara para conseguir esconder seu gênero, vestindo roupas largas e mantendo os cabelos curtos. Ela ajuda seu pai, um viciado atormentado, a cuidar de um campo de beisebol abandonado, onde traficantes se reúnem para jogar. Com a ajuda de seus amigos, Huck tem que lutar para superar sua realidade e derrotar a máfia local.

A jovem é forte, dona de uma coragem e tanto. Mas talvez isso seja fruto exatamente da ignorância, de não entender o quão grave é aquilo que acontece ao seu redor. Seu pai a protege como pode, apesar de ter sucumbido ao vício (e esse amor é lindo de se ver), mas a dura realidade cedo ou tarde bate à porta com mais força. Apesar de tudo, a mente de Huck é permeada por momentos de fantasia, que chegam a ser claramente retratados em cena, como quando uma fumaça roxa toma o ambiente, ou quando - em uma tomada aérea - os corpos entre os quais ela passa não são nada além de pedaços de papelão. Para a protagonista, estar junto do pai é o que vale, porque assim poderá levar junto a sorte dele. Afinal de contas, se o homem ainda está vivo, mesmo diante daquela conjuntura, ele é um cara de muita sorte.

Em "Compra-me um Revólver" vemos como a inocência infantil e a fábula ainda pode existir mesmo diante de um ambiente tão hostil. Inocentes, mas não alienadas, as crianças do longa mostram que, pra sobreviver, é necessário sonhar.

Curiosidade: A protagonista do filme de Julio Hernández Cordón é interpretada por Matilde Hernandez, filha do cineasta na vida real).

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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