“Meu Mundial: para vencer não basta jogar” - entrevista com Nestor Guzzini
Na próxima quinta-feira (19) estreará “Meu mundial: para vencer não basta jogar”, longa uruguaio voltado para o público juvenil, mas que ensina uma lição de vida muito importante para os mais velhos. Baseado no livro infantil de mesmo nome do ex-jogador uruguaio Daniel Baldi, “Meu mundial: para vencer não basta jogar” conta a história de Tito, um garoto de 13 anos que joga no pequeno time da cidadezinha de Nogales e se destaca por seu talento.
Tito, representado pelo jovem Facundo Campelo, ama jogar futebol e, com seu talento admirável, é reconhecido por um olheiro brasileiro, Rolando (Roney Villela), que se oferece para ser seu empresário. Vindo de uma família pobre, a oportunidade de treinar em um grande clube, morar em Montevideu e posteriormente no exterior, é tentadora.
O pai Rubem (Nestor Guzzini), com excesso de zelo e preocupação, fica nervoso com a rápida ascensão do filho, que afeta sua personalidade, na medida em que muda a situação econômica de toda a família. Logo, Tito passa a ter vergonha do pai por seus hábitos interioranos e eles se enfrentam. Há uma clara dificuldade daquele pai de, não somente preocupado com as mudanças do filho, mas também não entende direito mais qual o seu papel naquela família, já que perde seu papel de provedor. Já a mãe é mais pragmática, pensa no plano de saúde, nas coisas boas que essa nova condição trouxe para toda a família.
A pressão, a dura rotina, a distância dos amigos e a nova condição social mudam a personalidade de Tito, que, diferente do garoto brincalhão e sorridente que era em Nogales, se torna mais tímido, calado, e tem dificuldades de relacionamento com os colegas de clube. Sua carreira continuava em ascensão, mas, ao sofrer um acidente, ele se vê abandonado pelo clube, que não quis pagar seu tratamento, e assim acaba por receber uma lição da vida.
Facundo Campelo, que representa Tito, faz sua estreia na dramaturgia depois de ter sido escolhido pelo diretor Carlos Andrés Morelli dentre outros meninos de sua idade em equipes juniores de futebol no país. Foram apenas dois meses de preparação para esse personagem, que o menino representa com o talento de um veterano.
Já Nestor Guzzini, que representa o pai de Tito, levou o prêmio de melhor ator na competição internacional do Festival de Gramado de 2018. Nós conversamos com o ator uruguaio e ele contou um pouco como foi a experiência de gravar esse filme tão fofo e com uma mensagem tão bacana. “É sempre uma satisfação contar uma história em um filme, mas a satisfação de trabalhar com esses pré-adolescentes tão novos foi dupla, pelo talento inato de Facundo. Foi um grande acerto de Carlos Morelli", opinou Guzzini.
Nestor, que na infância também jogou futebol em um pequeno clube, conta ainda que a equipe do filme formou uma família que transcendeu os personagens, o que ajudou na performance de todos os atores. “Temos cenas em que eu e Tito nos enfrentamos, o que não é nada fácil, mas só foi possível pela confiança que havia entre nós dois.” Rubem é central na história do filme, e algumas vezes até mais importante que o próprio Tito para o desenrolar da trama e Nestor buscou mostrar as nuances deste personagem tão importante. "Ruben também se sente incomodado neste novo mundo, porque mesmo com toda dificuldade de sua vida em Nogales, tinha um papel bem claro definido, e com a nova vida, fica frustrado", explica o ator.
O filme tem uma mensagem bem clara, que Guzzini resume em: carinho e educação. "Trata-se de uma história aberta, que termina de forma encantadora e não sabemos o que passa depois, apenas suspeitamos que será muito difícil, por conta das dificuldades econômicas da família. Porém, nesta família há carinho. Isso não soluciona tudo, mas, sem isso, é muito complicado funcionar. Não é coincidência que muitos dos jovens jogadores de futebol que fazem sucesso sejam vindos de entornos pobres e não é bom que o adolescente carregue esse peso de tirar toda a família desta situação. Eu creio que não há uma solução mágica, mas sempre há de a possibilidade existir uma escola pública para ter o mínimo. Isso não soluciona tudo, mas sem isso, estamos distantes de lidar com o mundo com o mínimo de decência", entende Nestor Guzzini.
"Meu mundial: para vencer não basta jogar" foi um sucesso no Uruguai e 55 mil pessoas assistiram, cerca 2% da população do país e a partir do dia 19 de setembro, os apaixonados por futebol do Brasil (e os que não forem também) terão a oportunidade de assistir a esse filme emocionante e carinhoso.