“O Menino que Fazia Rir”... também faz chorar
Quando criança, eu tinha a mania de assistir repetidamente filmes improváveis. Por exemplo: “Lugar Nenhum na África”. A história da família alemã que viaja ao Quênia para fugir dos nazistas trata de temas adultos demais, com uma sensibilidade e uma sensualidade que concederam à produção o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2003. Esse ímpeto de adultecer, sozinha no meu próprio universo, fez com que eu me fundisse às narrativas e às lições das obras de arte. Falar da infância nunca é fácil para quem viveu, mas é igualmente difícil captar essas particularidades subjetivas dos sonhos de cada criança. Caroline Link, diretora de “Lugar Nenhum na África”, retorna em “O Menino que Fazia Rir”, demonstrando muito talento para retratar a fase definidora de nossa existência.
Hans Peter (Julius Weckauf) é um menino gordinho e muito amado pela família. Logo cedo descobre que a comédia dá o tom de seu infinito particular, tornando-se o canal para a formação de sua identidade. Ele satiriza o entorno e aproveita parentes festivos, sempre dispostos a embarcar nas atuações. É inegável o carisma da interpretação de Julius, que confere leveza ao enredo, mesmo nos momentos trágicos. Eventos inesperados atravessam os primeiros anos da vida do futuro comediante Hape Kerkeling. No entanto, as cenas tristes são contrabalanceadas pelo protagonista e por seus avós, tios e tias, com quem o público se solidariza. Para o espectador brasileiro, talvez o humor alemão não seja o mais atraente. “O Menino que Fazia Rir” vale a pena por ser emocionante e delicado, não por nos fazer gargalhar. Existem outros filmes nacionais que cumprem essa função com maestria.