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“Sobre Lutas e Lágrimas: uma biografia de 2018”, de Mário Magalhães


Capa de "Sobre Lutas e Lágrimas: uma biografia de 2018" Foto: Clara Mayrink

Em 2019 foi lançado pelo Grupo Editorial Record o livro “Sobre Lutas e Lágrimas: uma biografia de 2018”, de Mário Magalhães, biógrafo de Marighella. O livro é composto por textos que são, em sua maioria, fruto da coluna do jornalista no site The Intercept Brasil. Outras são inéditas, feitas exclusivamente para essa publicação.


O livro começa fazendo um paralelo com “1968: o ano que não terminou”, de Zuenir Ventura, usando uma festa de réveillon para a introdução. Mas diferente daquele, que foi escrito 20 anos depois dos fatos, o livro de Mário Magalhães foi escrito no calor dos momentos. A festa escolhida foi a de Marielle e sua esposa Monica, narrada pela namorada da vereadora assassinada. Só nesse prólogo eu passei bastante tempo porque é como uma cutucada em feridas ainda não cicatrizadas. É muito triste imaginar que passamos por tantas coisas terríveis tão recentemente e ainda estamos sentindo os sintomas e reflexos de tudo isso, ainda sem saber por quanto tempo ainda mais. É um livro doloroso de ser lido. Eu precisei de bastante tempo para digerir todo esse compilado, tendo que fazer grandes pausas.


O primeiro capítulo de “Sobre Lutas e Lágrimas” começa lembrando o terror da febre amarela ainda em janeiro e como isso se espalhou de forma equivocada, com fake news sobre as vacinas e a transmissão pelos macacos. Foi realmente uma deficiência nossa não ter nos alertado já neste período para o caos que se aproximava, com a gravidade do que já estava acontecendo. Foi tanta, mas tanta coisa que aconteceu depois disso que eu nem lembrava mais desse caso.


Em determinado momento do livro, o tema torna-se quase apenas Bolsonaro, porque de fato esse tema dominou todas as pautas no segundo semestre, seja na mídia ou nas nossas conversas cotidianas, pelo medo de que ele fosse eleito ou pela desgraça que foi sua vitória. O autor relembra os horrores do período eleitoral, com absurdos ditos por Bolsonaro e seus filhos, que, em um ambiente normal, seriam presos e punidos só por isso, tamanha truculência e violência.


"Sobre lutas e lágrimas"  Foto: Clara Mayrink

Mário Magalhães coloca em seus textos sutilezas que só no calor do momento poderíamos pensar. Por isso, por exemplo, escrevo meu diário pessoal. Anos depois teremos outra visão dos fatos, o que é tão importante quanto, mas é bom também ter essa noção do calor do momento, para ter uma sensação registrada para sempre.


Como crítica, poderia citar que o autor muitas vezes usa palavras difíceis para rebuscar a escrita, o que pode perturbar a leitura em algum momento. Em um texto curto não teria problema, mas no livro todo causa certa dificuldade, enche um pouco o saco na verdade. Principalmente porque fiz a leitura deste livro paralelamente à de Ventura, que se mostra diferente nesse sentido. Porém, sei que é uma comparação injusta e que o livro de Mário é o melhor que poderia ser, sendo um excelente registro deste período no Brasil, um dos mais conturbados e agressivos da história recente. Não à toa, "Sobre Lutas e Lágrimas" é um dos melhores livros de 2019, eleito não só por mim, mas como por uma série de outras listas na imprensa e entre leitores.


Por fim, “Sobre Lutas e Lágrimas” é uma leitura pesada e triste, mas de extrema importância. Talvez a história não se repetisse tanto se a gente tivesse acostumado a ouvi-la de vez em quando. E essa biografia nos força a lembrar o que nunca podemos esquecer.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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