O longo e enfadonho “Paris 8” e a vida de um jovem estudante de cinema
Recheado de metalinguagens, “Paris 8”, do diretor e roteirista Jean-Paul Civeyrac, conta a história de um garoto do interior, Etienne (Andranic Manet), que se muda para Paris para estudar cinema, quando começa a conhecer a vida além da sua bolha. Nós pegamos a história de Etienne a partir deste momento, em que ele sai de Lyon para estudar cinema na capital. Na narrativa acompanhamos todas as descobertas do jovem na cidade, a vida sem os pais, os amores, amigos novos, cigarro, bebidas, café, sexo e muita confusão mental e questionamentos, contestações.
Suas atitudes e sua nova vida fazem com que de certa maneira Etienne rompa com os aspectos de sua vida anterior, ao, por exemplo, diminuir a proximidade com os pais, entrar em conflito com a namorada, com quem estava junto há seis anos e passar por problemas da vida sozinho e em conjunto. Me identifiquei um pouco com o personagem, no sentido de que também vim do “interior” para o Rio. Em condições completamente diferentes da de Etienne, mas também comecei a ver um pouco melhor a vida neste período, que foi quando eu conheci mais o mundo de verdade. Por outro lado, a vida retratada em “Paris 8” é bem diferente da que eu tive e também de muitos jovens por aqui. Não sei se é somente uma diferença de entre as condições de Brasil e França ou se Etienne é mais um devaneio do diretor, que parece também se representar muito com o personagem.
As atuações de alguns atores são questionáveis, com poucas expressões e demonstrações de emoções. A apatia de Etienne o transforma em um personagem pouco envolvente, o que acaba por refletir em toda a trama.
Por ser um estudante de cinema, as conversas sobre o tema são frequentes ao longo do filme, o que pode ser enfadonho para quem não entende tanto assim das artes ou interessante para aqueles que conseguem pegar as referências. É importante salientar que o filme é todo em preto e branco e e bem longo, o que pode fazer com que seja cansativo em algum momento. O diretor optou por fazer uma divisão por partes, com alguns títulos poéticos, como “pequeno castelo boêmio” e “o sol negro da melancolia” que me pareceram um pouco desnecessário para a narrativa.
A trilha sonora é lotada de música clássica e os diálogos de referências literárias e cinematográficas, que podem passar desapercebidas por olhares menos apurados (como o meu mesmo que com certeza deixou passar um monte de coisas, mas que não prejudica em nada a compreensão do filme). “Paris 8”, cujo título original é “Mes Provinciales” estreou no último dia 17 de maio.