"O Homem Perfeito" e o reforço de estereótipos
Logo de cara, quando li a sinopse de "O Homem Perfeito" e vi que Luana Piovani seria a protagonista, pensei em uma espécie de revanche ao longa "Mulher Invisível". Veja só: Diana (Luana Piovani), aos 42 anos, é uma mulher bem-sucedida, com uma carreira estruturada, culta e que mantém um casamento feliz com seu marido (Marco Luque). Ao menos, é o que ela acha - até que descobre que o seu esposo está lhe traindo com uma jovem aspirante a bailarina, de 23 anos. Para separar os dois, ela decide criar o homem ideal na internet, com a ajuda do controverso cantor Caique (Sérgio Guize).
Talvez o maior problema do filme seja o fato de não ter comprado o discurso feminista com clareza, escorregando em diversos momentos. O filme percorre caminhos entre mostrar sororidade e se perder na falta dela (como o esforço de Diana em destruir o novo relacionamento do ex-parceiro tendo como vítima principal das armações a atual namorada dele). E, a partir daí, "O Homem Perfeito" aproveita para criticar o "egocentrismo" e traz dúvidas sobre os ônus e bônus de ser uma mulher poderosa e bem-sucedida, ajudando a reforçar estereótipos que pairam sobre o sexo feminino.
Porém, seguindo a lógica escolhida pelo filme, os personagens são muito bem construídos, dentro de suas complexidades afetivas. Percebemos direitinho as intenções de cada um e quais são seus desejos, necessidades e ausências. Além da mulher bem-sucedida vivida por Luana Piovani, temos o homem eterno crianção apaixonado por gibis e videogames interpretado por Marco Luque, a jovem bailarina sonhadora que ganha vida com Juliana Paiva, o roqueiro absurdamente machista vivido por Sérgio Guizé... O elenco ajuda muito a fazer com que o filme não perca completamente seu caminho.
"O Homem Perfeito" mostra como ainda é logo o caminho a ser percorrido para um cinema de comédia com intenção de ser popular e que trate a mulher sem encaixá-la nas caixinhas do estereótipo. Em um filme com grandes possibilidades de reviravoltas e respostas diante de situações machistas, o que vemos é a disputa pelo coração de um homem que não fez nada para merecer as duas mulheres envolvidas, além de momentos de crueldade sem propósito de uma para com a outra (sendo que nenhuma delas é entendida efetivamente como vilã, o que "justificaria" tal fato no enredo).