"Djon Africa" e a busca pelas origens africanas
Com mais população fora do que dentro, Cabo Verde é um dos países com mais altas taxas de emigração — as estimativas apontam para um milhão na diáspora. Miguel “Tibars” Moreira, mais conhecido como Djon África, é apenas mais um filho de cabo-verdianos, que nasceu e cresceu em Portugal. Sem jamais ter conhecido seu pai, acaba descobrindo que ele mora em Tarrafal, e decide aventurar-se além-mar, mesmo sem muitas pistas, à sua procura. Esta é a história que acompanhamos em "Djon África", a estreia em longa-metragem não-documental do casal de documentaristas portugueses João Miller Guerra e Filipa Reis. O filme, aliás, é um híbrido entre ficção e documentário e muito disso pode ser percebido nas longas tomadas de paisagens, por exemplo, além de um enquadramento de câmera mais flexível.
Para além da busca pelo pai, Miguel parte em uma jornada de encontro com a verdadeira origem, os antepassados, a terra africana... Logo no início de sua viagem, ainda no avião, o protagonista entra em uma conversa com a vizinha de assento tentando convencê-la que ele era sim cabo-verdiano, num esforço para provar (e entender, de alguma forma), quem ele verdadeiramente é. Considerado por todos (e por ele mesmo, talvez) como "perdidão" na vida e seguindo sem rumo, a viagem surge também como maneira de encontrar um caminho e um sentido para a própria existência.
"Djon África" pode ser ainda uma forma muito interessante de conhecermos melhor um país não tão retratado nos longa-metragens que chegam ao Brasil. No filme, conhecemos não só a paisagem cabo-verdiana como detalhes da cultura local, incluindo diversos diálogos na língua crioula e a forte bebida "grogue" (quem já bebeu diz que cachaça é coisa fraca perto disso).
O longa nos leva a diversas reflexões e situações de empatia com o protagonista, mas a estética pode causar desconforto em quem, assim como eu, foi "criado" por tantos anos dentro do mercado hollywoodiano e sua fórmula de fazer cinema.