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“A Biblioteca Elementar”, de Alberto Mussa, romance policial no Rio Antigo


Foto: Manu Mayrink

“A Biblioteca Elementar”, de Alberto Mussa, é o último livro do "Compêndio Mítico do Rio de Janeiro", uma série de cinco, que usa mitos cariocas para construir narrativas "policiais", uma em cada século. Esse se passa no século XVIII. “A Biblioteca Elementar” se trata de um romance policial histórico, todo recheado de críticas que podem ser aplicadas até hoje. Como mote, ele usa um crime ocorrido na Rua do Egito, na região da Carioca, e daí desenrola toda a trama, com personagens de diversos tipos.

Mussa faz um panorama da região, dos costumes e das pessoas da época, especialmente do grupo cigano, pouco documentado. Explica também a geografia da cidade do Rio, conta algumas histórias, contextualiza bem e traz informações desconhecidas até para quem é da cidade.

O autor usa um tipo de escrita incomum e muito interessante. Ele conversa com o autor e se coloca nos dias atuais. Ou seja, algumas informações ele expõe à luz do futuro, sabendo o que se passou nos séculos segundos e como o Brasil se encontra agora. Ele comenta até mesmo obras dele mesmo para fundamentar alguns de seus pontos.

O crime cometido que leva o romance, pouco importa. Muito mais me interessaram as críticas e pontuações feitas acerca da realidade do Rio de Janeiro. Ao longo do livro, Mussa faz várias críticas e cutucadas tanto à sociedade da época, quanto à atual: diz que na época se matava por nada no Rio, franciscanos que tinham escravas, luxúria entre padres, restrições à imprensa, a imigração portuguesa para cá, quando o Brasil começava a prosperar, por exemplo. Coisas que, muitas vezes, perduram até hoje.

A mulher tem espaço interessante neste livro, sendo citada a todo momento, por todas as suas condições e espaços que ocupam. Ele dá, por exemplo, uma informação que eu não tinha, a de que quase ⅔ das mulheres presas pela inquisição no Brasil moravam no Rio, cidade de mulheres infratoras, de amazonas. Informação essa que constata o caráter histórico de vanguarda do Rio, que à duras penas, tenta combater nos dias de hoje a onda conservadora que se espalha pelo mundo.

"A Biblioteca Elementar" fala sobre a lei vigente na época, que restringia direitos da minoria não como hoje, que é velado, mas de forma clara, explícita. A lei distinguia bem os brancos dos cristãos-velhos dos índios e negros, mas os brasileiros que não eram um nem outro não eram contemplados na lei, nem se falava sobre eles. Ou seja, já havia, como há até hoje, uma confusão em relação à raça da maioria dos brasileiros, que é totalmente misturada e costuma não ser contemplada.

É claro que eu li “A Biblioteca Elementar” agora sob os olhares do que estamos vivendo hoje, então eu consegui ter outro tipo de interpretação à muitas críticas que ele faz, que eu talvez não tivesse em outro contexto. Sua narrativa referente ao assassinato de fato é um pouco arrastada e cansativa, mas seu contexto, para os apaixonados do Rio como eu, vale a pena.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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