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Rodrigo Santoro, Cuba e humanidade em “O Tradutor”


“O Tradutor” faz do idioma um recurso que ultrapassa filiações nacionais. No filme, a capacidade de se comunicar a partir de uma linguagem própria revela características ainda mais humanas e universais: Rodrigo Santoro é Malin, um professor de Literatura Russa em Havana. O governo cubano suspende suas aulas para que possa ser realocado em outra função. As orientações não são claras no primeiro momento, mas o personagem logo descobre que será responsável por estabelecer o diálogo entre a equipe médica de um hospital e crianças, vítimas de Chernobyl. Malin é introduzido no âmago de um conflito emocional, através do qual estão ligadas as famílias soviéticas e as enfermeiras. Quando chega, utiliza seu domínio da língua russa para amenizar o sofrimento. No entanto, o sacrifício involuntário consome o personagem de tal forma que ele abandona sua vida e suas escolhas pessoais. Nesse sentido, “O Tradutor” problematiza a noção de bem estar individual e coletivo. Certamente, Cuba exercita o olhar para causas maiores do que superações particulares e esses aspectos sociais e políticos ficam evidentes.

Mas “O Tradutor” não é um filme político, apenas utiliza um episódio histórico e o avançado sistema de saúde cubano como palco para a jornada de um homem. Rodrigo Santoro está cumprindo o papel com excelência. A entrega é gritante e quase causa agonia, pois sua imersão no personagem é complementar à imersão de Malin. Conseguimos observar duas vidas a serviço de motivações que nos transcendem. Rodrigo está a serviço da arte, da narrativa; Malin serve ao amor. Não poderia ser diferente e somos confrontados com essa certeza no final. Além de negligenciar a si mesmo, o protagonista não prioriza sua família enquanto trabalha no hospital. O filho perde sua companhia para jogar bola, perde a atenção de seu pai e a esposa perde o marido. Contudo, o espectador é informado de que a história é real e de que foi dirigida pelos filhos de Malin. O tempo acertou as contas e a grandeza do pai foi reconhecida e prevaleceu. Afinal, os momentos que viveu na ala infantil do hospital abalariam a quem resta compaixão. Não estamos preparados para lidar com a morte e, cada vez menos, somos capazes de tremer diante da dor do outro. Em tempos de insanidade, “O Tradutor” ensina uma lição fundamental sobre pessoas. Pessoas que formam uma nação humana, repleta de valores que nos são caros, entretanto, que nos escapam como o vento.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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