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A distopia religiosa “Divino Amor”


“Divino amor” não podia ser mais real e assustador. O filme pernambucano, que tem José Alvarenga Jr. como um dos produtores executivos, é uma distopia estrelada por Dira Paes, que representa a fiel e responsável Joana. Em 2027, o Brasil é ainda mais religioso. Por mais que o estado ainda se diga laico, tudo gira em torno da religião, principalmente na vida daquela mulher simples e trabalhadora.

Logo nas primeiras cenas, assistimos à festa do Amor Supremo, a redenção do corpo, em que Deus é cultuado em uma festa estilo rave, com músicas eletrônicas. que substitui o Carnaval, E a religião e devoção estão presentes em cada detalhe daquela sociedade: drive thru de oração, em que Joana pede conselhos ao pastor, um centro de atendimento ao fiel, o culto sagrado à família tradicional, que deve estar sempre acima de tudo, e a espera pela volta do Messias. Familiar e assustador.

cena de "Divino amor"

Há alguma atenção à tecnologia, que se mostra muito mais avançada em alguns quesitos, como no cartório que Joana trabalha, mas em casas e outros espaços, tudo parece muito similar ao que temos hoje. Joana trabalha no setor de divórcios do cartório e buscava ao máximo reunir casais, evitando suas separações. Ela busca levar a fé em seu trabalho, usando a burocracia como uma esperança. Se envolve com as histórias, dá conselhos e faz disso sua grande missão.

O título do longa vem do grupo em que casais religiosos se reuniam, em geral para resolver crises em seus casamentos. Joana convida os casais que atende no cartório a participar do grupo, mas o que acontece lá vai além de reuniões religiosas comuns e é onde está a questão mais inovadora do longa.

O diretor não vê problemas em mostrar muitas cenas de sexo, com nudez, gozo, com ou sem amor. Há um ritual antes, mas o sexo em si não tem nada de muito santo ou sagrado. Diz-se que o amor não trai, e sim divide. Sendo assim, Joana e seu marido faziam sexo com outras pessoas, uns nas frentes dos outros, com os novatos que eles mesmos recrutavam.

Danilo, o esposo de Joana tem problemas de fertilidade, o que é um grande drama para o casal, já que ter uma família é a coisa mais importante naqueles tempos. Danilo faz procedimentos para ser mais fértil, Joana reza e pede a Deus constantemente que a ajude a engravidar, mas, quando finalmente conseguem, ela é rejeitada.

Temem a Deus e são fiéis mas quando é a mulher que tem uma questão, todos viram a cara: por não conseguir confirmar o pai de seu filho, Joana perdeu o marido, o grupo de reunião, o pastor. Todos esperam a vinda do novo Messias, mas diante dessa possibilidade, ninguém crê na mulher: a fé dessa sociedade tão restritiva se mostra fraca.

Assim como tantos outros que perdem a oportunidade de prosperar pelo desinteresse da sociedade, o promissor Messias do longa nasce sem nome e sem documento, rejeitado por todos. “Divino Amor” quer mostrar uma sociedade como a nossa, apenas um pouco mais extremada: uma sociedade “santa”, mas sem preparo para receber os milagres que lhe são diariamente oferecidos. Uma sociedade, na verdade, hipócrita. E assustadoramente similar à que temos hoje. A direção de “Divino Amor” é do pernambucano Gabriel Mascaro e a data de estreia é 27 de junho.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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