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A ascensão e queda de "Simonal"


Eu tenho uma paixão e elas se chamam biografias. Seja em séries, em filmes, em literatura… adoro saber detalhes de vidas que tiveram boas histórias pra contar. “Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei” chega aos cinemas nesta quinta-feira (08 de agosto) narrando a vida de Wilson Simonal (interpretado aqui por Fabrício Boliveira), famoso cantor carioca responsável por sucessos como “Mamãe Passou Açúcar em Mim”. Do auge, Simonal foi condenado ao ostracismo após ser apontado como delator no período da ditadura militar. No longa, acompanhamos os bastidores de sua carreira, suas decisões por impulso, sua vida boêmia, a dificuldade de um negro na grande mídia e tudo que há por trás das histórias contadas sobre ele.

De origem humilde, Simonal sabia que seu futuro seria na música, fazendo da malandragem carioca um estilo musical que ganhou o país. Mas ninguém está preparado para o repentino enriquecimento e a bajulação daqueles que antes não olhavam na sua cara. É preciso ter muito pé no chão. Veja só o que acontece com muitos jogadores de futebol, por exemplo. E não, a culpa não é exclusivamente de quem se perdeu pelo caminho. Ela está em um sistema que valoriza apenas dinheiro e fama, tornando estes elementos como ponto chave para que minorias sejam consideradas alguém que merece atenção. Depois de tempos de opressão, da violência às piadinhas por conta da cor, a necessidade de mostrar onde chegou e cada um dos luxos que conseguiu comprar com o próprio dinheiro não é condenável. Pelo contrário, é absolutamente compreensível. Outro ponto importante era a total consciência de Simonal de que ele era uma exceção num mundo que não dá voz e espaço aos negros, artistas ou não. Ele sabia que era um dos únicos a poder levar a vida que levava. E exatamente por ter conquistado tanto, achava que seria intocável.

A ligação de Simonal com o DOPS se dá de maneira até, de certa forma, inocente e alienada. Era uma tentativa de se enturmar com quem agora mandava. Na verdade, o ídolo queria mesmo continuar a ganhar seu dinheiro com música, fazer sucesso, usufruir de tudo que conquistou. E daí, escolhas erradas vieram. E o preço a ser pago foi alto. Depois de ser visto como inimigo por cantores e membros de partidos de esquerda contrários à ditadura militar, Simonal foi abandonado pelos contatos que fez com a direita (como ele mesmo afirma em determinada cena do filme, “era demais um negro entre eles”), sendo considerado inclusive delator de Gil e Caetano. O resto de sua vida - Simonal morreu vítima de cirrose hepática em 2000, aos 62 anos - foi dedicado a provar que não era o sujeito que acreditavam que fosse.

Antes de terminar, não posso deixar de falar de Silvio Guindane, sem dúvida um dos melhores atores da atualidade e que, aqui, interpreta um amigo de Simonal que, ao ver as transformações do artista, tenta chamar sua atenção para o que acontecia no país.

Outra coisa importante: vale avaliar bem o papel que tantas vezes sobra para a mulher na vida de um homem que conquista tanto sucesso. Aqui, Tereza (interpretada por Ísis Valverde), a esposa de Simonal, é uma mulher dona de si que vai perdendo seu espaço dia após dia com o casamento, se tornando doente e vítima de violência.

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Manu Mayrink é fanática por livros, filmes, séries, música e lugares novos.  A internet é seu maior vício (ao lado de banana e chocolate, claro) e o "Alguém Viu Meus Óculos?" é seu xodó. Ela ama falar (muito) e contar pra todo mundo o que anda fazendo (taurina com ascendente em gêmeos, imagine a confusão!). Já morou em cidade pequena e em cidade grande, já conheceu gente muito famosa e outras não tanto assim (mas sempre com boas histórias). Já passou por alguns lugares incríveis, mas quando o dinheiro aperta ela viaja mesmo é na própria cabeça. Às vezes mais do que deveria, aliás.

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